Renato
Carvalho de Oliveira*
Constantemente, ou raramente, nos deparamos com a seguinte problemática: Como se dá a felicidade na relação com a verdade, com a vida, com o desespero e com a sabedoria?
Se partimos de que 'A felicidade' é viver o presente sem esperar nada, mas vivê-lo na verdade, com lucidez, sem ilusão, buscando conhecer sempre mais o que depende de nós, amar, gozar e se alegrar com as pessoas, pois a realidade já basta por si mesmo, então nos perguntemos com Sponville:
O que é o Amor? O que é o Desejo? O que é a Vontade? O que é a Esperança? O que é o Desespero? O que é a Sabedoria do desespero?
"Spinoza responde: Amor é um desejo que é potência de existir, de agir, de gozar e de se regozijar (amar é regozijar-se com: estou contente de que você existe); Desejo é a força que nos permite comer, agir, amar com apetite, é a força motriz (Aristóteles) quando fazemos o que desejamos, porque desejamos o que fazemos; Vontade é um desejo cuja satisfação depende de nós; Esperança é o desejo do que não temos: é temer a realização ou a não realização do que esperamos. Ela se refere ao futuro, porque não sabemos gozar efetivamente: é um desejar sem gozar. É esperar algo que não está por vir: é um desejar sem saber, porque o futuro nos é desconhecido: quando se sabe, já não há porque esperar. É um desejo cuja satisfação não depende de nós: desejar é esperar sem poder; Desespero é ausência da armadilha da esperança, é o caminho da desilusão, da lucidez, do conhecimento; Sabedoria do desespero é a felicidade que não espera nada: ela precisa ser desesperadora e o desespero, feliz. O sábio não espera nada, porque não lhe falta nada, a verdade lhe basta e o sacia.
Para Platão, Aristóteles e Sartre ser feliz é ter o que se deseja, porém a felicidade é perdida para eles, porque o Desejo é, por definição, falta. Logo, só desejamos o que não temos, e nunca temos o que desejamos, nunca somos felizes, portanto. Para Schopenhauer o desejo do que não tenho provoca a falta em mim, a frustração e o sofrimento. Quando o desejo é satisfeito, já não há falta. Se não há falta, não há desejo. Se não há desejo, não há felicidade. Só tédio.
Portanto, para todos esses filósofos, a vida oscila entre o sofrimento e o tédio – sofrimento, por desejar-se o que não se tem e sofre-se com a falta; tédio, por se ter o que já não se deseja.
Então, só nos resta perguntar com André Comte-Sponville: O que nos falta para sermos felizes, quando temos tudo para sê-lo e não o somos?
O que é a Felicidade em ato?
Ora bolas, é Ser feliz no Presente. É viver os Contrários da Esperança: o prazer, o conhecimento e a ação:
- O Prazer: o contrário de desejar sem gozar é desejar gozando, desejar aquilo de que gozamos.
- O Conhecimento: o contrário de desejar sem saber é desejar o que se sabe; o sábio não apenas conhece, mas aprecia a vida.
- A Ação: o contrário de desejar sem poder é desejar o que podemos, o que fazemos; a única maneira verdadeira de poder é querer, e a única maneira verdadeira de querer é fazer.
A felicidade, portanto, só existe no presente através das três maneiras de desejar: O amor que é desejo que se refere ao real; a vontade que é desejo cuja satisfação depende de nós; e a esperança que é desejo que se refere ao que ainda não é e cuja satisfação não depende de nós.
Ora, se ser feliz em ato é desejar o que temos, o que fazemos, o que é – o que não falta: gozar e regozijar-se, então, perder a Esperança faz sentido, pois só teremos a felicidade à medida que não temos mais nada a esperar, já que o presente nos basta.
O convite é Ser Feliz em ato, é desejar o que temos, o que fazemos, o que é – o que não falta: gozar e regozijar-se.
* Estudante de Filosofía da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE
Bibliografia
Comte-Sponville, André. A felicidade, desesperadamente; tradução Eduardo Brandão. São Pualo: Martins Fontes, 2001
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