quinta-feira, 19 de abril de 2012

Irmã Katherine: uma santa dos nossos dias


Fr. Marcos Sassatelli
Frade Dominicano. Doutor em Filosofia e em Teologia Moral. Prof. na Pós-Graduação em DD.HH. (Comissão Dominicana Justiça e Paz do Brasil/PUC-GO). Vigário Episcopal do Vicariato Oeste da Arq. de Goiânia. Admin. Paroq. da Paróquia N. Sra. da Terra


No dia 9 desse mês de abril/12, segunda-feira, na oitava da Páscoa e primeiro dia do Tempo Pascal, faleceu, na Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, a Irmã Katherine Marie Popowich, missionária da Congregação Irmãs de São José de Rochester, com 84 anos de idade e 66 anos de vida religiosa. Ela, cuja vida foi uma caminhada pascal, "completou sua Páscoa”, chegou à Páscoa definitiva, à plenitude da Páscoa.
Na Igreja da Comunidade Jesus de Nazaré do Jardim Curitiba II, durante o velório, na Missa de corpo presente e na Missa de 7º dia, ouvimos emocionados - de pessoas que conheceram e conviveram com a Irmã Katharine - muitos testemunhos de apreço sobre a religiosa missionária, que nos edificaram a todos/as. Ela era realmente uma pessoa de profunda sensibilidade humana, uma verdadeira discípula missionária de Jesus, que viveu a radicalidade evangélica.
A Irmã Katherine "foi uma das fundadoras da missão das Irmãs de São José de Rochester no Brasil, chegando ao Brasil em 1964, em resposta ao chamado do Vaticano II que convidou Congregações Religiosas para mandar Irmãs para servir na America Latina. Durante 48 anos, ela conviveu com o povo em Paranaiguara, São Simão, Cachoeira Alta e Goiânia - GO, e Uberlândia - MG. Em seu grande amor pela Congregação, ela iniciou os encontros nacionais e internacionais das Irmãs de São José e serviu como presidente da CRB (Conferencia dos Religiosos do Brasil - GO) nos anos 90”.



Chegando no Brasil, a religiosa missionária "iniciou seu ministério como professora e diretora nas Escolas Municipais de Paranaiguara, onde a educação ainda se encontrava em fase inicial, e como agente de pastoral na Diocese de Jataí, permanecendo nesta Diocese até 1984, quando foi transferida para Uberlândia - MG. Desde 1989 tem se doado a serviço do povo nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) nos bairros de Nova Esperança, Jardim Curitiba, na região Noroeste da cidade de Goiânia conhecida como ‘Alto da Poeira’".
A Irmã Katherine -que era usuária do SUS- "foi uma militante apaixonada e grande defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo servido no Conselho Municipal de Saúde por muitos anos, se afastando de suas atividades como Conselheira em dezembro de 2011. Ela serviu como presidente do Conselho Municipal de Saúde de Goiânia em 2000-2001. Contribuiu para que fosse construída a Maternidade Nascer Cidadão, no Jardim Curitiba III, com uma proposta alternativa de parto humanizado. Lutou também pela Maternidade Dona Íris e pelo CAPS na Vila Mutirão. Ela sempre incentivou os outros usuários e usuárias a participarem do Conselho Municipal de Saúde e de Conselhos locais” (Falecimento da Irmã Katherine em Goiânia: http://www.isjbrasil.com.br/index.php?page=noticia&id_noticia=706- 10/04/12).
O SUS, que em teoria é um dos melhores planos de saúde pública, na prática - pela falta de infraestrutura adequada, de recursos humanos e financeiros - é ainda muito precário e longe do ideal de saúde pública sonhado pela Irmã Katherine. Mesmo nessas condições, existem nas Unidades de Saúde Pública muitas pessoas (médicos/as, enfermeiros/as e outros agentes de saúde) que trabalham com dedicação e amor a serviço do povo.
A Irmã Katherine acreditava que é possível uma política de saúde pública fraterna e de qualidade para todos/as. E é por isso que, com muita garra, a religiosa missionária ajudou a consolidar o SUS em Goiânia e a implantar a Maternidade Nascer Cidadão. Fraternidade e saúde pública, diz a Campanha da Fraternidade 2012.
Entre as diversas homenagens que a Irmã Katherine recebeu, a de Madrinha da Maternidade Nascer Cidadão foi a que mais a emocionou. Em sua última entrevista à Prefeitura de Goiânia, ela disse: "Para quem auxiliou na implantação da Maternidade Nascer Cidadão e dedicou muito a quem precisa, é um grande privilégio poder ser homenageada por Goiânia e o que é melhor, representando as mulheres da região’’ (http://www.prefeituragoiania.stiloweb.com.br/site/goianianoticias.php?tla=2&cod=6351- 11/04/12).
A Irmã Katherine era uma mulher pioneira, que encorajava, cutucava e incentivava a todos/as. Ela se identificava com a Igreja das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs): uma Igreja simples, fraterna, evangélica, toda ministerial (servidora) e Povo de Deus. Nestes últimos tempos, a religiosa missionária foi a pessoa que mais divulgou o Documento 92 da CNBB: Mensagem ao Povo de Deus sobre as Comunidades Eclesiais de Base, resumindo o Documento e traduzindo-o numa linguagem acessível.
"A ultima imagem de Irmã Katherine - diz a Irmã Elenice Buoro - que guardo no coração e na retina é a de uma peregrina subindo com dificuldade, mas com persistência, a rampa do Santuário de Trindade, no dia 27 de outubro de 2011, na caminhada das CEBs, apoiada de um lado numa Irmã e do outro segurando-se no corrimão. Imagem certamente do que foi sua vida: Uma busca constante e persistente de Deus junto com os irmãos e irmãs, em Comunidade, para fazer acontecer o Reino, sobretudo junto dos mais pobres e excluídos” (Falecimento da Irmã Katherine em Goiânia. Site citado).
Como falei no velório e na Missa de 7º dia, entre as muitas virtudes e qualidades da Irmã Katherine, destaco três: a serenidade de uma mulher de Deus, de muita fé e sempre sorridente; a firmezade uma mulher forte, corajosa, guerreira, uma verdadeira profetisa, que denunciava as situações de injustiça e de violação dos direitos humanos, mas que também - entranhadamente solidária com os empobrecidos, oprimidos e excluídos - lutava para mudar estas situações; e a sabedoria do Espírito Santo que - fascinada por Jesus de Nazaré e seu projeto de vida - a impelia a estar sempre atenta aos sinais dos tempos como apelos de Deus e, em sintonia com a vida e o sofrimento do nosso povo, a tornava capaz de dar o conselho certo na hora certa.
Por ter tido a felicidade de conhecer a Irmã Katherine e de conviver com ela em diversos momentos - que foi uma experiência muito enriquecedora - posso, sem nenhuma dúvida, afirmar que a Irmã Katherine é uma santa dos nossos dias e pedir: Santa Katherine, Roga pelo nosso povo! Roga pela Igreja! Roga por nós!

e no livro: Margaret Brennan, SSJ. A Boa Chuva. As Irmãs de São José de Rochester no Brasil - 1964-2004. Edição em português, Goiânia - GO, 2006].

Goiânia, 18 de abril de 2012.

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