Nas
horas graves, os olhos ficam cegos; é preciso, então, enxergar com o coração.
O oleiro mostrava-se
arrebatado ao ouvir os versos do poeta, enquanto o poeta encantava-se com os
vasos admiráveis do oleiro.
Antoine de Saint-Exupery
O OLEIRO E O POETA
Há muito tempo, na cidade
de Zahlé, ocorreu uma rixa entre um jovem poeta, de nome Fauzi, e um oleiro,
chamado Nagib.
O juiz, homem íntegro e
bondoso, interrogou primeiramente o oleiro, que parecia muito exaltado.
"Disseram-me que
você foi agredido? Isso é verdade?"
"Sim, senhor
juiz." - confirmou o oleiro - "fui agredido em minha própria casa por
este poeta”. Eu estava, como de costume, trabalhando em minha oficina, quando
ouvi um ruído e a seguir um baque.
Quando fui à janela pude
constatar que o poeta Fauzi havia atirado com violência uma pedra, que partiu
um dos vasos que estava a secar perto da porta.
Exijo uma
indenização!" - gritava o oleiro.
O juiz voltou-se para o
poeta e perguntou-lhe serenamente: "Como justifica o seu estranho
proceder?”.
"Senhor juiz, o caso
é simples." - disse o poeta.
"Há três dias eu
passava pela frente da casa do oleiro Nagib, quando percebi que ele declamava
um dos meus poemas. Notei com tristeza que os versos estavam errados. Meus
poemas eram mutilados pelo oleiro.
Aproximei-me dele e
ensinei-lhe a declamá-los da forma certa, o que ele fez sem grande dificuldade.
No dia seguinte, passei
pelo mesmo lugar e ouvi novamente o oleiro a repetir os mesmos versos de forma
errada.
Cheio de paciência tornei
a ensinar-lhe a maneira correta e pedi-lhe que não tornasse a deturpá-los.
Hoje, finalmente, eu
regressava do trabalho quando, ao passar diante da casa do oleiro, percebi que
ele declamava minha poesia estropiando as rimas e mutilando vergonhosamente os
versos.
Não me contive. Apanhei
uma pedra e parti com ela um de seus vasos.
Como vê, meu
comportamento nada mais é do que uma represália pela conduta do oleiro."
Ao ouvir as alegações do
poeta, o juiz dirigiu-se ao oleiro e declarou: "que esse caso, Nagib,
sirva de lição para o futuro. Procure respeitar as obras alheias a fim de que
os outros artistas respeitem as suas. Se você equivocadamente julgava-se no
direito de quebrar o verso do poeta, achou-se também o poeta egoisticamente no
direito de quebrar o seu vaso".
E a sentença foi a
seguinte: "determino que o oleiro Nagib fabrique um novo vaso de linhas
perfeitas e cores harmoniosas, no qual o poeta Fauzi escreverá um de seus
lindos versos. Esse vaso será vendido em leilão e a importância obtida pela
venda deverá ser dividida em partes iguais entre ambos”.
A notícia sobre a forma
inesperada como o sábio juiz resolveu a disputa espalhou-se rapidamente.
Foram vendidos muitos
vasos feitos por Nagib adornados com os versos do poeta. Em pouco tempo Nagib e
Fauzi prosperaram muito. Tornaram-se amigos e cada qual passou a respeitar e a
admirar o trabalho do outro.
Cada ser tem uma função
específica a desenvolver perante a sociedade. Por isso, há grande diversidade
de aptidões e de talentos.
Respeitar o trabalho e a
capacidade de cada um possibilita-nos aprender sobre o que não conhecemos e
aprimorar nossas próprias atividades.
Respeito e colaboração
são ferramentas valiosas para o desenvolvimento pessoal e coletivo.
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